segunda-feira, 20 de agosto de 2012

IV Caminhos de Santiago - Terra do Fim do Mundo


Este ano realizamos mais uma peregrinação a Santiago de Compostela, seguindo o Caminho Português, tendo como destino final Finisterra.
Nesta aventura participaram o Paulo, Quim Zé, Zé Pedro, Rui e Délio.
E sim, a peregrinação realizou-se, apesar dos boatos espalhados por um TOC que tinha acordado demasiado cedo !!! Ah!Ah!Ah!
A partida com Zé Pedro, Rui, Délio, Paulo e Quim Zé.
Quinta-feira 16 de Agosto
Eram 7:45h quando partimos da Igreja de Santiago D'Antas.
Felizes e contentes, pedalamos em direcção a S.Pedro de Rates, para encontrar o Caminho Portugês. Primeira paragem na Mercearia, para obter as credencias mas, com muitos pedidos de desculpa informaram-nos de que estavam esgotadas. Com muito boa vontade, a dona da mercearia lá nos fez o carimbo numa folha em branco, de forma a garantirmos a Compostela.
Seguiram-se Barcelos e Tamel, onde conseguimos obter as credenciais.
Com paragem em Ponte de Lima para o almoço, eram 13h, a peregrinação esteve quase a acabar para mim (Délio), que não vendo uma corrente que bloqueava a passagem, fiz um mortal encarpado à frente acompanhado da bina. 
Quem viu, temeu o pior tal o aparato da queda.
Felizmente foi só um valente susto, uns nacos de carne a menos no joelho e cotovelo e o orgulho ferido !!!  
Em relação ao almoço, uma nota só, Sumo de Laranja !!! Os presentes percebem, os outros fiquem com uma dica, Quim Zé.
Labruja conquistada, (desta vez acompanhados por um "Homem" com 2 filhotes de 11 e 13 anos respectivamente, que estavam a percorrer os caminhos ), siga para Valença, onde chegamos perto das 18:30h.
Com as pernas dos "rookies" (Paulo, Quim Zé e Zé Pedro) ainda frescas, decidimos seguir caminho até O Porriño.
Visita obrigatória à fabulosa Catedral de Tui, atravessado o túnel do convento, rapidamente percorremos a distância de 18 km que separa Valença de O Porriño.
Tentativa falhada de alojamento no Albergue, estava cheio, pernoitamos no hotel Parque.  
Excelente jantar no Val de Louriña, por um preço verdadeiramente barato, tendo em conta a qualidade e quantidade do manjar.
Neste dia ficaram feitos 128km com 1865 mt de acumulado positivo.

Sexta-feira 17 de Agosto 
Uma vez que já estávamos no O Porriño, o destino deste segundo dia seria Santiago de Compostela.
Este dia ficou marcado pela luta titânica entre o Quim Zé, o seu joelho e o selim.
A manhã correu de feição, percorrendo facilmente a distância até Pontevedra, onde almoçamos, e onde tivemos de visitar uma loja de Bicicletas para trocar umas pastilhas de travão. Para futura referência, o nome da loja é Motobike e fica próxima da Ponte dos Tirantes. 
Destaque deste dia, vai para a visita à Reserva da Ria Barosa, local fresco e refrescante propício para apaziguar o calor que se fazia sentir.
Paragem em Caldas de Reyes para a obrigatória caña, e nova paragem em Padron, para lanchar. Nesta altura ninguém sabia do Quim Zé. Quando conseguimos falar com ele, diz que está a 15 km de Compostela mas afinal ... eram 24km.
Forças restabelecidas, toca a atacar o último quarto do dia para a chegada, sempre desejada, a Santiago de Compostela. 
Durante este troço do percurso, encontramos uma mensagem do Quim Zé, qual ciclista profissional, escrita no asfalto. Claro que à mensagem original "Quim Zé", foram acrescentadas outras palavras!!! Eh!Eh!Eh!(Vejam as fotos)
Já com Santiago à vista, o Rui apercebe-se que tinha os pratos pedaleiros soltos e sem 2 parafusos. Que stress! F*º%&! Car`+ª=! Grande m*º&5! foram as respostas ao " Tem calma, resolve-se em Santiago. Se não for hoje amanhã de manhã". Eram 19:30h, logo a probabilidade de encontrar um loja aberta em Santiago eram escassas mas, a sorte protege os audazes. 
Enquanto agrupava-mos, já dentro de Santiago, repara-mos numa loja de bicicletas, BICI OLIVEIRA, com  a grade a ser fechada naquele instante.
O Rui quase que caiu 2 vezes em escassos 10 metros na ânsia de chegar à loja.
Após 2 de treta, lá conseguimos convencer o dono a resolver o problema. 
No meio da conversa, ficamos a saber que era Português, natural da Figueira da Foz, ex ciclista profissional com participações na Vuelta, Giro, Tour e Volta a Portugal, de seu nome Joaquim Jorge Oliveira.
Com todos estes percalços, chegamos à Catedral de Santiago já passava das 21:00h.
Grande momento de alegria, especialmente para o Paulo, Quim Zé e Zé Pedro. O primeiro objectivo estava atingido.

Muitas fotografias depois, lá fomos procurar local para pernoitar, o que não foi difícil.
Alongamentos feitos, banhos tomados e, onde está o Quim Zé ?!?!
Digamos que teve desarranjos com 1/2 kg de bola de carne que tinha comido umas horas antes.
Toca a jantar que já se faz tarde! Cada tiro cada melro! Excelente jantar! No final do jantar uma longa caminhada pelas ruas de Santiago com paragem num magnífico café, o Majestic lá do sítio, para um chá. Estávamos nós a fazer os pedidos, quando um de nós de vira para o empregado e lhe diz " Para os intestinos o que é melhor?" ! Ah!Ah!Ah!Ah! 
Quando regressamos ao hotel, o Quim Zé e o Zé Pedro avisam que não seguem caminho connosco para Finisterra. Não sabiam o que iam perder!
Neste dia ficaram feitos 105km com 1800mt de acumulado positivo

Sábado 18 de Agosto.
Como tínhamos chegado tarde no dia anterior, aproveitamos o inicio da manhã, para obtermos a Compostela, comprar os recuerdos e visitar-mos a espectacular e deslumbrante Catedral de Santiago. 
Todos obtivemos a Compostela.

Com tudo isto, quando partimos de Santiago (Délio, Rui e Paulo) já eram 10:15h.
O Quim Zé e o Zé Pedro, ficaram a passear em Santiago, sendo recolhidos mais tarde pelo nosso transporte.
Agora, vem a parte mais difícil. O que dizer deste dia?! 
Sem sombra de dúvidas que o percurso que liga Santiago a Compostela é o mais bonito, duro e espectacular de todos.
Como que a servir de prenúncio para o que nos esperava ao longo do dia, a saída de Santiago é feita por trialeiras absolutamente deliciosas. Até parece que pensaram o percurso para BTT.
Depois deste seguiram-se muitos, cada um melhor que o outro. 




Locais lindíssimos, bosques deslumbrantes, paisagens deliciosas, descidas alucinantes e subidas que subiam e subiam e subiam!
Foi numa destas subidas, em que paramos para colocar algum óleo nas correntes, que decidi pregar uma partida ao meu mano, o Rui. 
Uma vez que tínhamos deixado os alforges e mochilas em Santiago, resolvi colocar um peso extra no camelbak do meu irmão. Nada mais nada menos do que cerca de 2/3 kg de pedra!

E foi assim, até pararmos para almoçar, que ele percorreu 30km com algum peso a mais. 
Estávamos nós a almoçar, quando aparecem o Quim Zé, Zé Pedro e o Sr. Alberto, nosso motorista. Que grande espera ainda teriam.
A primeira metade desta jornada, como já foi referido, foi realizada em trilhos frescos e sempre com muito verde. A segunda metade, é mais árida e agreste, embora tão deslumbrante como a primeira. 
Com kms e kms de subidas, parecia que nunca mais avistávamos o mar.
Com algum pronúncio de chuva, que não se vieram a concretizar, chegamos à divisão do Camiño para Fisterra e Muxia.
Seguimos para o nosso destino, Fisterra.
Paulo e Rui também a tem.
O momento em que avistamos o mar e a costa e um momento de inegável encanto e de tal maneira especial, que paramos durante alguns minutos para saborear aquela vista magnífica.
Com uma descida alucinante, para a costa, para a Vila de CEE, chegamos ao nível do mar.
A partir deste momento, o ritmo foi outro.
A sensação de realização era tal, que nos apetecia absorver todos os momentos e detalhes, de tal forma que levamos 2h para percorrer cerca de 20 km.
Ainda com algumas subidas duras pelo meio, lá chegamos a Fisterra, onde obtivemos a declaração de termos chegado ao Fin do Camiño Jacobeo.

Obtido o almejado documento, rumamos ao cabo, para finalizar esta nossa aventura.
Mais uma vez a alegria de chegar ao Faro de Fisterra é indescritível.
Lá nos esperavam o Quim Zé, o Zé Pedro e o Sr. Alberto.
Ficaram feitos 92km com 1650mt de acumulado positivo.
O fim do caminho - Km 0
Fim!!! Até à próxima

Com a roupa mudada, binas na carrinha, o próximo destino era um restaurante que tínhamos cruzado, mesmo junto ao mar.
Acabamos o dia com um magnífico jantar, partindo para Portugal já perto das 24h (hora espanhola).
A viagem, quando nós julgávamos que seriam 5 gajos a dormir e um a conduzir, transformou-se em 3 horas de gargalhadas, disparates e muito Quim Zé !!!
Chegamos a Portugal eram 2h da manhã.


Visitem a página das citações para novas pérolas.

PS - Ao Quim Zé, pela boa companhia e pelos bons motivos para rirmos. Foi pena que não tivesses seguido caminho connosco.
PS1 - Ao Zé Pedro, que com 15 anos completou os caminhos de Santiago com relativa facilidade. Convence o teu pai a dar-te uma bina nova !!!
PS2 - Ao Paulo, que tinha prometido só ir até Santiago, o resto logo se veria. Chegou a finisterra com a maior das facilidades. bravo!
PS3 - Ao Sr. Alberto, pelo grande seca que apanhou e por ter aturado o Quim Zé sozinho!! Ah!Ah!Ah!
PS4 - Ao Mano Rui

3 comentários:

Mano Rui disse...

Mano Délio como é hábito teu mais uma narrativa excelente e que mesmo assim não consegue transmitir toda a "entourage" e "ambiance" destes 3 dias de interregno no stress diário (apesar do F%%5C&/(/CAr! dos parafusos!)
Privilégio ter um irmão assim! (apesar dos calhaus!)
Quim Zé e Zé Pedro na próxima vamos a Finisterra.Obrigado pela companhia e boa disposição.
Paulo grande companheiro que nunca mais será o mesmo depois desta jornada!

Paulo Pinheiro disse...

Foi um grande prazer poder fazer os meus primeiros caminhos de Santiago com estes excelentes companheiros.

O Délio é um verdadeiro líder, sempre a motivar e apoiar, inalcançável. Preparou a logística ao pormenor. Esta em todas!
"Os Biciatus poderiam viver sem ele? Podiam, mas não era a mesma coisa!"

O Rui é tremendo. Sempre na primeira linha sempre a puxar (mesmo com uns kilos a mais nas costas) faz ver os melhores BTTistas. Um verdeiro amigo, sempre pronto a ajudar. O Délio tem a quem sair!

O Zé Pedro, notável! Com uma Bicicleta a pesar 15kg + 10kg de mochila e só com 15 anos foi dos primeiros a chegar a Santiago. Parabéns!

Quim Zé, se não fosse a má disposição e o erro no posicionamento da altura do selim chegaria a Finisterra. É um lutador. No próximo vai chegar a Muxia sem qualquer problema.

Sobre os Caminhos de Santiago tenho que dizer que foi uma aventura fabulosa. Adorei os caminhos até Santiago, mas os caminhos de Santiago a Finisterra foram os que mais gostei. São imensos, fantásticos para quem gosta da natureza, de independência, de adrenalina e BTT. Estou certo que os vou repetir!

Notas:

Quero agradecer ao Délio e ao Rui que sem a ajuda deles não teria chegado ao fim, por problemas mecânicos.

Os Restaurantes e as comidas, foram um exemplo em quantidade e qualidade. Se alguém quer com bem temos as direcções.

Muito Obrigado a todos! Quando é que vamos outra vez?

Leitão disse...

Bonito. Ainda estou arrepiado. brbrbrbrbrbrbrbrbrbrbrbrbrbrbrbrbrbrb
Então os meus amigos sempre partiram na Quinta-feira?
Quim Zé ... Quim Zé ... Quim Zé ... O "home" está em todas. Começou com o sumo de laranja, meteu bola de carne e acabou em chá !!! pelo meio houve joelho e selim, por fim uma fuga vertiginosa com olés no asfalto. És de facto o meu herói Quim Zé.
Que tal a experiência das mochilas? Como? Não ouvi bem, mas continuo convencido que os alforges são a melhor solução.
Quim Zé, não se faz, então não é que um simples desarranjo intestinal te deixou carente a ponto de não permitires que o teu filho seguisse viagem para Finisterra. O rapaz estou em crer que ia até ao fim do mundo, com a maior das facilidades. Pára de chorar Zé Pedro, ainda és novo, a primeira vez que fiz os Caminhos de Santiago já era bem crescidinho.
Bonito, este terceiro dia deixou-me com água na boca. Que vontade de lá ter estado também.
O Relato, os P.S.ssss e os Comentários quase me levaram às lágrimas.
Companheiro Paulo, agora que te convertes-te (nunca mais será o mesmo) podemos contar contigo para os caminhos de Fátima?
Abraço