quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Caminhos de Fátima 2012 - Crónica Oficial

Foi mais ou menos assim a nossa aventura por caminhos de Santiago (?), de Vila Nova de Famalicão até ao Santuário de Fátima. 
Dia 5 de Outubro
Às 7 em ponto, estava, na pastelaria Santa Catarina, o sempre atrasado para as domingueiras Faria, com as respetivas luzes. Depois foram chegando dentro da hora marcada, Leitão, Paulo, Carla e Zé Costa e a surpresa do dia o Vasco II, que logo esclareceu que só nos acompanharia até Espinho e regressaria de comboio. Para azar do Vasco era dia de greve, então toca a pedalar até à terrinha. O tempo ia passando e eis que chega o atrasado Chouíça. 
Desculpas aceites, foto de família tirada e eis que pelas 7,30h, com 15 minutos de atraso, lá nos fizemos à estrada até às Caldinhas onde nos esperava o nosso chefe que montado na sua Bina de estrada nos acompanhou até ao Porto. Na passagem pelo dragão, os portistas presentes reclamaram uma foto, eis quando surge o benfiquista Faria, tal emplastro a juntar-se para a foto. Isto é para que o chefe fique a saber que no grupo há um “vendido”. Chegados a Espinho fomos tomar um cafezito para a despedida do Vasco II. Aqui começaram os primeiros problemas. Como o chefe não nos pode acompanhar passou a Garminda ao Paulo, e como diz a sabedoria popular (ovelhas não são para mato). Então não é que a Garminda não encontrava o percurso quase nunca. Então, resolvemos ir pelos passadiços da praia de Espinho e levar com o mau humor ou noite mal dormida dos Espinhenses que se julgavam com mais direitos e afinal o que ficaram foi a conhecer novo vocabulário. Chegámos a Vila da Feira por volta das 13 horas, à esplanada do café “kalif” para o merecido almoço, à base de pregos picantes, amendoins, minis e a respetiva coca-cola light ou zero para a menina do grupo. Não totalmente satisfeito com o repasto, eu, Zé Costa quis complementar com uma boa “bola de Berlim”. Qual o meu espanto quando oiço o elegante do nosso amigo Faria a reclamar comigo por causa das 420 Kcal da tal dita bola. 
Pensava eu que preocupação com as calorias só o nosso elegante e amigo de jornada Chouíça (mas para vosso descanso, nesse dia queimei 5.880 das ditas calorias). Não devo esquecer que o simpático proprietário fez um desconto de dez cêntimos. Estômagos aconchegados, toca a andar até Águeda e aqui voltam os problemas com a Garminda a teimar em não encontrar os verdadeiros trilhos. Então foi Estrada… Estrada… e mais Estrada. Valeu-nos para distração os vendedores ambulantes nas bermas da estrada que vendiam entre outras coisas, vinho “doçe” e as pobres senhoras de minissaia ou sem ela à espera do autocarro, para sorte delas iam aparecendo muitos condutores que lhes davam boleia. Chegámos a Águeda à pensão Celeste por volta das 18h30 com 139 km feitos e um acumulado em estrada de 1200, onde fomos recebidos pela simpática e sempre disponível dona e, desta vez, também estava lá o seu marido. Chegado ao quarto, liguei a RTP1 e estava a passar o Portugal em direto, com uma reportagem sobre o nosso magnífico parque da Devesa, ouvi o presidente do nosso município com o merecido sorriso de orelha a orelha a falar das magníficas qualidades do dito parque, entre elas a total despoluição do rio Pelhe. No seguimento da reportagem a jornalista pergunta a uma criança “o que mais gostas no parque”. Ao que esta responde: “dos animais!” “Quais os animais que já viste?”, “Patinhos, passarinhos e muitos, muitos mosquitos”. Banhos tomados e quando nos preparávamos para ir ao centro de Águeda para jantar, aparece o bom do Faria, em calções de bicicleta porque não tinha levado roupa para a noite. Porque não terá o Faria levado roupa para sair à noite? Esquecimento? Por ser torrão? Ou terá sido a Celeste que lhe pregou uma partida? Resposta correta: o nosso amigo Faria é mesmo torrão, recusando-se a ir a uma loja do Chinês comprar umas calças de tactel verde alface. Depois de avanços e recuos, seguimos o conselho de um nativo e lá fomos para o que seria o melhor restaurante lá do sítio (aqui fica o nome para aviso, “duas entradas”). Comida do pior, vinho estragado. Para nos tentar compensar o empregado ainda nos serviu aquilo que seria a especialidade da casa (leitão), mas era fraco e vinha frio. A única coisa boa é que enquanto esperávamos pela comida ficamos a saber que o Faria só ressona quando se deita de lado porque quando dorme de barriga para cima dorme como um anjinho. Jantar ingerido, lá fomos tomar um cafezito a uma esplanada, e aí ficamos a perceber a razão do Faria ter levado os calções da bicicleta como fato de noite, é que as cadeiras eram duras e ele estava confortavelmente sentado. Nessa esplanada verificamos que a temperatura era de 37º como o demonstram as várias fotos. De regresso à pensão, lá fomos até ao bar para fazer um joguito de sueca (Faria, Zé Costa contra Paulo e Leitão). Foi um jogo sem história porque eu e o Faria demos um estibório aos adversários. 
Entretanto o Chouiça já tinha recolhido aos aposentos. Ah!… o resultado final foi de 10-8. Dia 6 de Outubro. 
Alvorada às 7h, pequeno-almoço às 7,30 e saída às 8, com todos os elementos a cumprirem escrupulosamente estes horários. Partida em direção a Coimbra e aqui fiquei convencido que o chefe se queria vingar de nós pelo facto de não poder participar nesta peregrinação. Digo isto porque o raio da Garminda teimava em mandar-nos pela estrada. Primeira paragem foi em Famalicão da Anadia para um merecido café. Ainda não tínhamos parado e já andava atrás de nós um experimentado peregrino para nos avisar que estávamos mal. Com o café tomado, tivemos o privilégio de ser guiados até ao verdadeiro caminho, mais uma vez ou a Garminda ou o seu operador nos levava para o sítio errado. Coimbra foi a cidade escolhida para o nosso merecido almoço pelas 12h40. Enquanto esperávamos pelos bons panados de perú, escolhemos para tema de conversa “depilação masculina”, que tanto escandalizou alguns dos elementos do grupo, havendo mesmo um que disse desaprovar a depilação feminina. Mais escandalizados ficámos ao saber que teríamos que pagar ao balcão ou correríamos o risco de ainda hoje estarmos no local, ou a usufruir das nossas penitenciárias. 
Seguimos viagem e, finalmente pudemos contemplar a maravilhosa natureza que nos foi aparecendo pelos trilhos que a Garminda lá conseguiu encontrar. Tal era o entusiasmo que até as vinhas foram motivo de paragem, pois houve quem assaltasse descaradamente as videiras mais à berma. Para surpresa do grupo, as ditas “donas” surgiram do nada e apanharam-nos com a mão nas uvas. Mas também houve quem não comesse um bago e fosse acusada de as estar a guardar no saco (neste caso alforges), enfim… Após percorridos mais alguns km em estrada ou em trilhos ou até mesmo pelo meio dos campos, chegámos a Ansião por volta das 19h10 com 110km nas pernas. Aquando da chegada à famosa Residencial “Solar da Rainha”, foi necessário despender 5min do meu tempo para convencer o dono que era um bom cozinheiro e que ansiávamos por um banquete cozinhado por ele. Então, já com banho tomado pudemos sentar-nos na sala de jantar onde já nos esperava o Faria com um copo de Moscatel oferecido pelo simpático senhor e degustar as tenras carnes grelhadas, assim como o arroz de miúdos, que foi novidade para Paulo. No momento de escolher a sobremesa, o senhor alertou que esta era fresca mas só porque estava no frigorífico, na realidade o arroz doce já vinha enfeitado com pintas esverdeadas. Durante a refeição, Paulo desabafou em favor da sua companheira Garminda por ela nos ter orientado quando as setas nos falharam. E não pudemos deixar de elogiar o vinho maduro servido ao jantar, que proporcionou alguns efeitos nos homens do grupo como se pôde ver mais tarde na vila. Para finalizar esta etapa, fomos tomar café. Esperámos que todos os elementos se preparassem de forma a podermos andar na rua sem corrermos riscos. No entanto, ainda houve quem provocasse umas risadas pelas calcinhas de lycra que usou durante o passeio. Elegemos para o efeito o café da “mosca”, desta vez sem mosca, mas com cheirinho. Após a volta da praxe pela terrinha, acompanhada por alguns assobios, cantares e saltos aos mecos, praticados pelos machos da peregrinação, regressámos à residencial para o merecido descanso. 
7 Outubro.
À semelhança do dia anterior a hora de reunião manteve-se às 7h30. Deslocámo-nos até à pastelaria Rainha para acumular algumas energias. 
Eram 8h25 quando nos pusemos a caminho do nosso destino. As peripécias e os enganos iam surgindo e os desenganos também, pois valeu-nos o Faria que se disponibilizou para perguntar aos bombeiros de Alvaiázere qual o percurso a fazer parai nos pôr na rota da Garminda. Enquanto esperávamos uns pelos outros para reagrupar, eis que vemos uma criança chorosa à procura da mãe. Solidários como somos, ninguém arredou pé até encontrarmos a bendita senhora. Quando a família já se encontrava reunida, decidimos retomar o nosso rumo. 
Pelas 11h parámos em Freixianda para um cafezito. Café tomado, ala que se faz tarde e a ansiedade aumentava porque Fátima começava a aproximar-se, eu (Zé Costa) já não aguentava mais sentir os alforges a baterem nos raios da minha BINA, claro. Mais uns quilómetros nas pernas e, por volta das 13h, nova paragem no café Vitória, algures em qualquer lugar, onde encontrámos um grupo de BTTistas peregrinos (não sei se estradistas como nós ou mesmo montanhistas), de Viana do Castelo, que logo nos informaram que não havia nada para comer. Toca a entrar e gastar o meu Latim com a proprietária para tentar convencê-la a servir-nos a sua carne assada numas sandes. O esforço foi em vão porque a carne era para o seu filho mancebo que estaria para chegar. Tivemos que nos contentar com um pão cortado em quatro, acompanhado com um bom naco de presunto, e as nossas amicíssimas “minis”. Mas, nem tudo foi mau, porque o Paulo pode matar saudades dos famosos pacotes de bolacha baunilha que o pai lhe trazia quando ele era pequeno. Eram 14h48 quando finalmente chegámos ao terreiro do Santuário de Fátima. O meu conta-quilómetros marcava 328 km. A sensação foi tal como da primeira vez, muito boa, com uma diferença desta vez fomos recebidos por um daqueles zelosos engravatadinhos que vagueiam como almas penadas lá pelo recinto. Mas este dirigiu-se a nós com toda a educação do mundo e disse: “dentro do recinto por favor levem as bicicletas à mão”. Ainda houve tempo para umas sandochas, enquanto o senhor que nos foi buscar montava as binas e o Leitão passava alguma água pelos sovacos, antes de se por a caminho até à capital, para disfrutar de concerto dado pelo veteraníssimo (87 anos) LEONARD COHEN. Chegámos à terrinha quando eram 18h30, do dia 7 de outubro do ano de 2012.

7 comentários:

Zé Costa disse...

Já estou a preparar os caminhos franceses de Santiago. Srão feitos em Agosto de 2013. Quem alinha??

Zé Costa disse...

Peço muita desculpa ao Sr COHEN. É que o Sr tem 78 aninhos e não 87.

Delio disse...

Aposto que foi o Leitão que te corrigiu !!!!!

Paulo Pinheiro disse...

É necessário por justiça nas afirmações. Sem querer justificar nada é importante que se diga que a Garminda ou o seu operador são eventualmente os menos culpados pelos os longos km de estrada.
Que diga o Faria sempre a fugir do pelotão, ou os alforges do Zé Costa e da Carla sempre a mexer e a saltar do sítio, ou o Leitão acompanhado pelo Faria a teimar em seguir as setas azuis. O mais esclarecido ainda foi Chouiça retraido no seu Iphone a curtir radio.

Quero dar uma nota especial ao Quim Zé, pois como pode ver nas imagens encontramos o URSO dele em Coimbra. É de facto um grande URSO, mas muito simpático.

Zé Costa disse...

O chefe. Não vês que foi erro de simpatia (78-87).
Na crónica não referi, mas as contas ficaram todas acertadas entre os peregrinos, não é preciso por nada no blog.

Leitão disse...

Voltando às "setas azuis". O "esclarecimento" do chefe, no “post anterior” não esclareceu.
1)“O percurso traçado, coincide em algumas partes, com os caminhos de Fátima(estradas), mas como estes se desenrolam maioritariamente em "asfalto", basta ver os peregrinos a percorrer a Nacional 1”
Délio, aqueles que tu vês todos os anos a percorrer a Nacional 1, são os cumpridores de promessas, aqueles que querem chegar o mais depressa possível, dar o seu contributo e abalar para a sua terrinha pois o trabalho espera.

Há muitos cumpridores de promessas e poucos peregrinos, pois …

“Peregrinar é uma forma de procurar, de avançar, de olhar o horizonte essa linha onde a Terra e o Céu se tocam. Peregrinar é empreender uma viagem. É também uma forma de olhar para dentro.” (in “Caminhos de Fátima” – informação do Centro Nacional de Cultura)

“Peregrinar é um ato de Fé. É um Caminho e como tal pressupõe um itinerário, mas não se esgota nele. Tem que se lhe associar uma intenção e um objetivo, que alimentam a motivação e despertam a busca interior, promovendo assim o enriquecimento espiritual e cultural.” (in “O Caminho Português de Santiago” da Associação dos Amigos do C.P.S.)

… peregrinar pressupõe tempo, disponibilidade que a maioria de nós não tem, ou então, uma forma diferente de encarar a vida. Por alguma razão os “peregrinos” que encontramos em Portugal a fazer os “caminhos de Santiago” são maioritariamente estrangeiros.

O Caminho do Norte que ligará o Porto a Fátima está a ser delineado e muito em breve estará todo marcado com setas azuis, que indicam a direção de Fátima, e com setas amarelas em sentido oposto, indicando a direção de Santiago de Compostela, já que o mesmo caminho percorrido num ou noutro sentido é Caminho para Fátima ou para Santiago.
Assim poderão os peregrinos de Santiago vindos de toda a Europa continuar até Fátima, o que já acontecia embora com dificuldade por o caminho não estar operativo, e poderão os de Fátima seguir para Santiago, o que também já acontece. (in “Caminhos de Fátima” – informação do Centro Nacional de Cultura – sem data de publicação)

São três os caminhos sinalizados para os peregrinos que por promessa, ou apenas por vontade própria, caminham habitualmente a pé até ao Santuário de Fátima, entre maio e outubro. Projeto - feito com base nos Caminhos de Santiago – e colocado em prática pelo Centro Nacional de Cultura no ano de 2000, os “caminhos de Fátima” têm vindo a ganhar cada vez mais adeptos.
O “Caminho do Norte” é o maior, com 320 quilómetros que começa em Valença, passa pelo Porto e Coimbra, e termina no santuário. Este percurso – devidamente sinalizado por setas azuis e pequenos azulejos -, tal como os restantes, conta com 10 albergues.
Devidamente identificado está também o “Caminho da Nazaré”, numa extensão de 50 quilómetros, e o “Caminho do Tejo”, com 141 quilómetros e que tem saída em Lisboa. (in Jornal de Notícias de 14/10/2012).

2)“O exemplo de Cernache é um deles. Os peregrinos a pé não percorrem esses trilhos”

È verdade, pelas razões apontadas anteriormente, mas pertencem aos “caminhos de Fátima” versus “caminhos de Santiago”.

Do que li anteriormente dos comunicados do CNC não fiquei totalmente esclarecido se o que pretendem é criar um novo caminho para Fátima e para Santiago, ou utilizar o Caminho Português de Santiago existente, utilizando o caminho Real de Lisboa ao Porto e o Medieval a partir daí. Há uma coisa da qual estou absolutamente certo, as setas azuis não nos empurravam para as estradas nacionais “o tempo todo”. Pareceu-me que na maior parte do percurso correspondiam ao “Caminho Português de Santiago”. Não há como lá voltar, com tempo, e peregrinar até ao Santuário de Fátima.
Abraço,

Delio disse...

Leitão, para a próxima vais .... a pé!!!

Ah!Ah!Ah!Ah!Ah!Ah!

Abrejos.