domingo, 29 de setembro de 2013

Caminho Francês - DIA 6

Quinta, 12 de Setembro.


  
Como referido nas crónicas anteriores, as planícies tinham ficado para trás. O que nos separava de Santiago de Compostela eram três etapas duras, com muita montanha e com duas subidas imponentes, a "Cruz de Hierro" e o "Cebreiro".
Hoje era dia de subirmos à "Cruz de Hierro".
Com uma bela manhã de sol, aproveitamos alguns momentos para visitar-mos a catedral de Astorga, essa linda cidade, produtora de excelentes chocolates e dos afamados Mantecados.
Após visitarmos a catedral, aproveitamos para verificar a pressão dos pneus e ao encher o pneu do Rui, por motivos inexplicáveis,  pipo da válvula ficou preso na bomba deu o berro.
Ainda perdemos algum tempo a tentar solucionar o problema até que optamos pela solução lógica, meter uma câmara no pneu.
Com o Rui " bastante aborrecido", devido à sua enorme paciência, nada melhor do que começar a pedalar para esquecer o stress !!! Ah!Ah!Ah!Ah!
Assim fizemos.
Saindo de Astorga, rolamos em trilhos de terra, sempre a subir, passando por algumas belas povoações, com o casario construído todo em pedra.
Os 20 km que nos separavam de Rabanal del Camino, passaram sem grandes dificuldades, apesar de já estarmos a 1150mt de altitude.
Com uma curta pausa, aproveitamos para tomar um café e, foi precisamente quando comentávamos a qualidade do café, que ouvimos alguém a perguntar:
- São de onde ?
Finalmente, encontramos os primeiros portugueses desde que saímos de St. Jean Pied Port.
Eram 3 pessoas, que percorriam o caminho, já desde o centro de França.
Naturais de Portalegre, tiravam parte das suas férias para percorrer em cada ano, 250km do caminho.
Começaram em 2009.
( Nota: Não será muito fácil encontrar portugueses a percorrer o caminho desde St Jean Pied Port, uma vez que, segundo os dados estatísticos, partiram/passaram em St. Jean durante o ano de 2012 , apenas 207 portugueses.
Para terem um termo de comparação, brasileiros foram cerca de 900.)
Alguns momentos de conversa e seguimos caminho para atacar a "verdadeira subida".
A subida para a "Cruz de Hierro" é realizada em trialeiras, algumas com bastantes pedras, excelentes para nós e para quem gosta de subir.
A subida leva-nos primeiro a "Foncebadón, 1500mt de altitude, aldeia típica de montanha, em que até a rua principal e única, tem uma pendente considerável.
A dureza da subida foi aumentando à medida que nos aproximava-mos da "Cruz de Hierro", com alguns singles e trialeiras a exigir o máximo das nossas pernas.
Está ali !!!
As "minhas" pedras!
 Finalmente avistamos a famosa cruz, memorial de peregrinos onde, manda a tradição, se depositem as pedras trazidas de casa de cada peregrino.
O monte de pedras é considerável, mas nos últimos anos também tem sucedido o inverso.
Pessoas, que por lembrança, levam pedras deste local mítico do caminho. 
Hora de pararmos para as fotos da praxe e para colocar as pedras que tinha carregado desde casa. com os nomes do Dinis, Simão, Sandra e o meu.



A base da cruz, está cheia de mensagens e lembranças, deixadas por peregrinos.

Siga caminho!
Nada nos tinha preparado para o que se seguia.
Descemos calmamente até ao abrigo de "Manjarim".
Conseguem encontrar a distância a Famalicão ?!?!

O Abrigo de Manjarim, na foto, fica junto à estrada, e após uma curva, podemos escolher entre seguir na estrada ou seguir o camiño propriamente dito que segue por terra.
Em boa hora optamos, pelo "verdadeiro camiño".
Mais uma vez se prova que na opção entre alforges e mochila, a mochila ganha, pois permite-te seguir trilhos que com o alforge são para ser feitos a pé.
A vista é tão boa como a descida!
Seguiram-se, 15 km, sim, 15 km, de descidas ininterruptas e brutais, através de trialeiras do melhor que vi.
Acreditem que é verdadeiramente brutal. 
É diversão e um sorriso rasgado.
A adrenalina esteve ao rubro durante estes 15 km, em que desces sempre no limite do razoável.
Este imenso "parque de diversões"  é interrompido apenas, para contemplar 2 belos lugarejos, El Acebo e Molinaseca.

Por mais que eu tente, e tento realmente, torna-se difícil para mim colocar as palavras certas para descrever esta descida. 
Imaginem, que apesar de ter dado um malho brutal quase no final, sem grandes consequências a não ser uma costela amassada que ainda hoje me chateia, voltaria a fazer aquela descida vezes sem conta.
São drops atrás de drops, pedras atrás de pedras, singles atrás de singles !!!
Finalmente chegamos a Ponferrada, hora de almoçar qualquer coisa e descansar os braços da violenta descida que acabamos de fazer.
Magnífico castelo de Ponferrada!
Almoçados e descansados, retomamos o caminho com destino a "Villafranca del Bierzo".
Rolamos normalmente em caminhos rurais e trilhos, sem grandes dificuldades, atravessando algumas pequenas povoações.
Em "Cacabelos" encontramos um lagar de vinho(comunitário) datado do século XVIII-XIX, que impressionava pela dimensão da sua prensa.
Imponente, esta prensa do lagar e vinho.
Chegamos a Villafranca del Bierzo ao final da tarde, precisamente na altura em que se juntava uma multidão de gente junto à catedral, para o musical repicar dos sinos.
Villafranca del Briezo, é uma pequena cidade, com várias igrejas e um sobranceiro castelo medieval.
Não conseguimos dedicar a esta terra o tempo que ela mereceria, pois queríamos pedalar um pouco mais, de forma a pernoitarmos mais perto da grande dificuldade do dia seguinte, O Cebreiro.
Rumamos até Vega de Valcarce, onde pernoitamos.
Hora de fazer gelo no joelho !!! Eh!Eh!Eh!Eh!

Resumo do dia:
Astorga - Vega de Valcarce
112 km
1350 mt de acumulado
Média de 13.9 km/h
0 assistência em viagem.
1 avaria.

  

2 comentários:

Mano Rui disse...

Eu sei que por vezes falta a inspiração, a disposição, o tempo, a oportunidade, o computador mas maninho não sou só eu, há mais gente impaciente por saber da conclusão:
-Porque se não deve deixar de ir a Santiago pelo "caminho difícil"

Paulo Cunha disse...

Sim, há mais gente deste lado, silenciosa, esperando...
A intenção não é pressionar, e os níveis de ansiedade até que estão em baixo.. é apenas, a curiosidade de saber, de como se faz uma empreitada desta envergadura. Resta-me dizer, que é dos melhores relatos que tenho tido oportunidade de ler; com o detalhe suficiente para que se possa ter uma ideia do que nos espera "um dia"..