sábado, 5 de outubro de 2013

Caminho Francês - DIA 7

Sexta, 13 de Setembro.

Aproximava-se o fim da nossa fantástica aventura e hoje teríamos de ultrapassar a última grande dificuldade, subir o CEBREIRO.

Vista do albergue do Cebreiro.
Cliquem, vale a pena.
A manhã apresentava-se fria, 7º , devido a nos encontrarmos num pequeno e fundo vale.
Saímos por estrada, pedalando calmamente durante alguns kms.
Chegados a Las Herrerias, desviamos para uma estrada interior onde fomos atravessando pequenos aglomerados de casas sempre num ritmo lento, para aquecer as pernas na medida certa para a subida que se seguiria. 
Desde que iniciamos esta etapa foi sempre a subir , moderadamente, mas sempre a subir.
Castelo de Sarracín !
Um pouco depois , chegava a terra!
Precisamente na altura em que entrava no caminho, um outro peregrino que vinha de bicicleta, disse-me " Don't go that way, it's to hard ! Folow the road !".
A minha resposta a isto foi " If it's hard it's Ok !!!" Ah!Ah!Ah!Ah! - Como me iria arrepender desta arrogância !!
Efectivamente, durante todo o caminho, sempre que surgem grandes dificuldades, existe sempre uma alternativa para as bicicletas, normalmente por estrada. Isto deve-se ao facto de muitas das pessoas que fazem o caminho de bicicleta, fazerem-no com bicicletas citadinas com pneus rolantes e sem grande resistência para muitas das dificuldades que os trilhos apresentam.
Eu vinha a pedalar, claro !!!
 Eh!Eh!Eh!
Lá seguimos pelo trilho, mas pouco depois tivemos de nos apear, devido ao desnível do mesmo e ao piso, cheio de pedras e buracos.
Lá empurramos as nossas binas, mesmo à mão com bastante dificuldades, a ponto de tomar a decisão, e engolir o orgulho, de logo que possível  voltar para a variante da estrada.
Subir à mão , não !!!
Logo que chegamos ao fim deste trilho, voltamos 2km para trás, sempre em estrada, até encontrarmos o desvio para as bicicletas.
Esperava-nos uma subida brutal de 4km, sempre em asfalto, até voltarmos novamente a encontrar o trilho. Nesta subida dura, muito dura, é necessário manter uma cadência certa e baixa, caso contrário torna-se desesperante.
Vá-se lá saber porquê, esta subida "soube-me pela vida". Talvez pelo sol, pela vista ou simplesmente porque "não tinha de empurrar a bina à mão" !!! Ah!Ah!Ah!Ah!
Após os 4km, cruzamos La Laguna de Castilla, local onde o trilho voltava a tocar a estrada por onde vínhamos a subir. O trilho que se apresentava , embora fosse duro, não era impraticável  como o anterior, por isso optamos por reentrar no trilho e deixar a estrada para trás.
O trilho ia acompanhando a encosta !
O trilho que tínhamos pela frente era fantástico!
Apesar dos muitos peregrinos que caminhavam no trilho, lá fomos superando as dificuldades, sempre com a apoio  e admiração dos mesmos. 
O trilho é um misto de single com trialeira, com bastantes pedras e drops para ultrapassar, continuando a ser muito duro.
Lá fomos subindo até chegarmos aos 1350mt e ao tão desejado Cebreiro.
O Cebreiro é uma pequena povoação de montanha, que nasceu fruto de um mosteiro beneditino que ali existe desde o século IX, que sempre deu abrigo e protecção a todos os peregrinos que por ali passavam.
Vista desde a porta do mosteiro.
Depois de todas as fotos e da visita ao bonito mosteiro, aproveitamos para tomar um café e retemperar as energias.
A vista desde o albergue do Cebreiro é fabulosa como podem ver na foto inicial da crónica.
Recomeçamos a pedalar, atravessando a povoação e derivando depois para um trilho de terra bastante rolante e, acima de tudo, a descer ! Eh!Eh!Eh!
Esta descida levar-nos-ia a uma outra subida, ao Alto do Poio, curta mas também dura.
Na paragem em San Juan de Hospital, enquanto recolhia-mos mais um carimbo, eis que nos surge um "cromo" a mendigar.

Este, em bom português, pediu-nos dinheiro para comprar um hamburger ! 
Quase me apeteceu perguntar-lhe se ia ao MacDonald !!! Ah!Ah!Ah!Ah!
Claro que lá lhe demos o que queria e seguimos caminho.
Continuamos a pedalar, agora sem grandes dificuldades até chegarmos a Triacastela. 
Os kms que antecedem Triacastela, voltam a ser excelente, porque são feitos em descidas, uma vez mais, fabulosas. 
Nos descemos dos 1350 mt para os 650 mt em apenas 20 km.
Chegados a Triacastela aproveitamos para almoçarmos qualquer coisa.
Lá escolhemos um restaurante e aproveitamos para relaxar.

Em Triacastela, podemos optar por 2 variantes do caminho, a variante de San Xil e a de Samos.
Nós optamos pela de Samos, por permitir-nos-ia visitar um dos maiores e mais importantes mosteiros de Espanha.
Em boa hora o fizemos, porque o mosteiro de Samos é realmente imponente, e os trilhos que lá nos levam são muito bonitos.
Trilhos rodeados por frondosos carvalhos que tornam os mesmos mágicos.
Situado na margem do rio Ouribio, o imenso mosteiro cumpre a sua tradicional função de abrigar os peregrinos num enorme quarto comum, com pinturas medievais a cobrirem todas as suas paredes.
Verdadeiramente fabuloso !
Imponente mosteiro de Samos.
O caminho foi sendo feito sempre em bons trilhos, ladeados por frondoso arvoredo sem que com isso a dificuldade não estivesse lá, pois foram quase todos feitos no "sentido ascendente".
A aproximação a Sarria, é feita mais uma vez, de forma espectacular, descidas excelentes, não das melhores, também a bitola está altíssima, mas muito boas.
Chegados a Sarria, faltavam-nos apenas 22 km até ao final desta jornada, PortoMarín.
Saimos de Sarria, através de pequenos campos agrícolas e depois de passarmos a linha do comboio, surge-nos uma subida imponente, ladeada por gigantescos carvalhos. 
Para começar essa subida, temos de passar um pequeno regato.
Enquanto nós atravessávamos calmamente o dito regato, surgem 2 peregrinos betetistas, que tentam passar sobre umas lajes que lá existiam. Má ideia, saiu de frente ! É o que acontece aos "pros".
Estes 20 km, renderam, renderam, renderam !
Começava o rompe pernas que nos levaria a Santiago de Compostela.
Apesar dos magníficos trilhos que fomos percorrendo em "típicas aldeias minhotas", dos frondosos carvalhos que nos davam a sombra, este foi sem sombra de dúvida, o troço que mais me custou a fazer. 
Foi saturante e já estava sem paciência para aquilo!
As minhas pernas lá me "foram arrastando" ao longo dos kms. 
Lá nos fomos aproximado de PortoMarín, local da última pernoita desta aventura.
Antes de chegarmos a PortoMarím cruzamos o marco dos 100 km, marco importante para quem faz os caminhos, pena é que esteja completamente "pintado" por ignorantes que acham que deixar a sua marca é pintar estes marcos quilométricos.
Só faltam 100 !!! Yupi !!!
Chagamos a PortoMarin mais tarde do que pretendíamos, mas como tínhamos tratado do alojamento com antecedência, na pausa do almoço, não havia grande stress.
Chegamos ao " nosso Rio Minho".
Porto Marin, banhado pelo Rio Miño.
Pode-se ver a velha ponte românica,que normalmente está submersa.

Amanhã é o grande dia!


Resumo do dia:
Valcarce - PortoMarin
82 km
1900 mt de acumulado
Média de 12.6 km/h
0 assistência em viagem.
0 avaria.

1 comentário:

Mano Rui disse...

Afinal a inspiração mantém-se! Obrigado por mais esta crónica.
Não duvido que o meu irmão consegue transmitir aos "ouvintes" o privilégio(e também a malha pois claro)que é cumprir esta peregrinação. E só falta mais uma... Aquela que por ser a última parece voar