Sexta, 13 de Setembro.
Aproximava-se o fim da nossa fantástica aventura e hoje teríamos de ultrapassar a última grande dificuldade, subir o CEBREIRO.
Vista do albergue do Cebreiro. Cliquem, vale a pena. |
A manhã apresentava-se fria, 7º , devido a nos encontrarmos num pequeno e fundo vale.
Saímos por estrada, pedalando calmamente durante alguns kms.
Chegados a Las Herrerias, desviamos para uma estrada interior onde fomos atravessando pequenos aglomerados de casas sempre num ritmo lento, para aquecer as pernas na medida certa para a subida que se seguiria.
Desde que iniciamos esta etapa foi sempre a subir , moderadamente, mas sempre a subir.
Um pouco depois , chegava a terra!
Castelo de Sarracín ! |
Precisamente na altura em que entrava no caminho, um outro peregrino que vinha de bicicleta, disse-me " Don't go that way, it's to hard ! Folow the road !".
A minha resposta a isto foi " If it's hard it's Ok !!!" Ah!Ah!Ah!Ah! - Como me iria arrepender desta arrogância !!
Efectivamente, durante todo o caminho, sempre que surgem grandes dificuldades, existe sempre uma alternativa para as bicicletas, normalmente por estrada. Isto deve-se ao facto de muitas das pessoas que fazem o caminho de bicicleta, fazerem-no com bicicletas citadinas com pneus rolantes e sem grande resistência para muitas das dificuldades que os trilhos apresentam.Eu vinha a pedalar, claro !!! Eh!Eh!Eh! |
Lá seguimos pelo trilho, mas pouco depois tivemos de nos apear, devido ao desnível do mesmo e ao piso, cheio de pedras e buracos.
Lá empurramos as nossas binas, mesmo à mão com bastante dificuldades, a ponto de tomar a decisão, e engolir o orgulho, de logo que possível voltar para a variante da estrada.
Subir à mão , não !!!
Logo que chegamos ao fim deste trilho, voltamos 2km para trás, sempre em estrada, até encontrarmos o desvio para as bicicletas.
Esperava-nos uma subida brutal de 4km, sempre em asfalto, até voltarmos novamente a encontrar o trilho. Nesta subida dura, muito dura, é necessário manter uma cadência certa e baixa, caso contrário torna-se desesperante.
Vá-se lá saber porquê, esta subida "soube-me pela vida". Talvez pelo sol, pela vista ou simplesmente porque "não tinha de empurrar a bina à mão" !!! Ah!Ah!Ah!Ah!
Após os 4km, cruzamos La Laguna de Castilla, local onde o trilho voltava a tocar a estrada por onde vínhamos a subir. O trilho que se apresentava , embora fosse duro, não era impraticável como o anterior, por isso optamos por reentrar no trilho e deixar a estrada para trás.
O trilho ia acompanhando a encosta ! |
O trilho que tínhamos pela frente era fantástico!
Apesar dos muitos peregrinos que caminhavam no trilho, lá fomos superando as dificuldades, sempre com a apoio e admiração dos mesmos.
O trilho é um misto de single com trialeira, com bastantes pedras e drops para ultrapassar, continuando a ser muito duro.
Lá fomos subindo até chegarmos aos 1350mt e ao tão desejado Cebreiro.
O Cebreiro é uma pequena povoação de montanha, que nasceu fruto de um mosteiro beneditino que ali existe desde o século IX, que sempre deu abrigo e protecção a todos os peregrinos que por ali passavam.
Vista desde a porta do mosteiro. |
A vista desde o albergue do Cebreiro é fabulosa como podem ver na foto inicial da crónica.
Lá nos fomos aproximado de PortoMarín, local da última pernoita desta aventura.
Amanhã é o grande dia!
Resumo do dia:
Recomeçamos a pedalar, atravessando a povoação e derivando depois para um trilho de terra bastante rolante e, acima de tudo, a descer ! Eh!Eh!Eh!
Esta descida levar-nos-ia a uma outra subida, ao Alto do Poio, curta mas também dura.
Na paragem em San Juan de Hospital, enquanto recolhia-mos mais um carimbo, eis que nos surge um "cromo" a mendigar.
Este, em bom português, pediu-nos dinheiro para comprar um hamburger !
Quase me apeteceu perguntar-lhe se ia ao MacDonald !!! Ah!Ah!Ah!Ah!
Claro que lá lhe demos o que queria e seguimos caminho.
Continuamos a pedalar, agora sem grandes dificuldades até chegarmos a Triacastela.
Os kms que antecedem Triacastela, voltam a ser excelente, porque são feitos em descidas, uma vez mais, fabulosas.
Nos descemos dos 1350 mt para os 650 mt em apenas 20 km.
Chegados a Triacastela aproveitamos para almoçarmos qualquer coisa.
Lá escolhemos um restaurante e aproveitamos para relaxar.
Em Triacastela, podemos optar por 2 variantes do caminho, a variante de San Xil e a de Samos.
Nós optamos pela de Samos, por permitir-nos-ia visitar um dos maiores e mais importantes mosteiros de Espanha.
Em boa hora o fizemos, porque o mosteiro de Samos é realmente imponente, e os trilhos que lá nos levam são muito bonitos.
Trilhos rodeados por frondosos carvalhos que tornam os mesmos mágicos.
Situado na margem do rio Ouribio, o imenso mosteiro cumpre a sua tradicional função de abrigar os peregrinos num enorme quarto comum, com pinturas medievais a cobrirem todas as suas paredes.
Verdadeiramente fabuloso !
O caminho foi sendo feito sempre em bons trilhos, ladeados por frondoso arvoredo sem que com isso a dificuldade não estivesse lá, pois foram quase todos feitos no "sentido ascendente".
Imponente mosteiro de Samos. |
A aproximação a Sarria, é feita mais uma vez, de forma espectacular, descidas excelentes, não das melhores, também a bitola está altíssima, mas muito boas.
Chegados a Sarria, faltavam-nos apenas 22 km até ao final desta jornada, PortoMarín.
Saimos de Sarria, através de pequenos campos agrícolas e depois de passarmos a linha do comboio, surge-nos uma subida imponente, ladeada por gigantescos carvalhos.
Para começar essa subida, temos de passar um pequeno regato.
Enquanto nós atravessávamos calmamente o dito regato, surgem 2 peregrinos betetistas, que tentam passar sobre umas lajes que lá existiam. Má ideia, saiu de frente ! É o que acontece aos "pros".
Estes 20 km, renderam, renderam, renderam !
Começava o rompe pernas que nos levaria a Santiago de Compostela.
Apesar dos magníficos trilhos que fomos percorrendo em "típicas aldeias minhotas", dos frondosos carvalhos que nos davam a sombra, este foi sem sombra de dúvida, o troço que mais me custou a fazer.
Foi saturante e já estava sem paciência para aquilo!
As minhas pernas lá me "foram arrastando" ao longo dos kms.
Antes de chegarmos a PortoMarím cruzamos o marco dos 100 km, marco importante para quem faz os caminhos, pena é que esteja completamente "pintado" por ignorantes que acham que deixar a sua marca é pintar estes marcos quilométricos.
Só faltam 100 !!! Yupi !!! |
Chagamos a PortoMarin mais tarde do que pretendíamos, mas como tínhamos tratado do alojamento com antecedência, na pausa do almoço, não havia grande stress.
Chegamos ao " nosso Rio Minho".
Porto Marin, banhado pelo Rio Miño. Pode-se ver a velha ponte românica,que normalmente está submersa. |
Amanhã é o grande dia!
Resumo do dia:
Valcarce - PortoMarin
82 km
1900 mt de acumulado
Média de 12.6 km/h
0 assistência em viagem.
0 avaria.
1 comentário:
Afinal a inspiração mantém-se! Obrigado por mais esta crónica.
Não duvido que o meu irmão consegue transmitir aos "ouvintes" o privilégio(e também a malha pois claro)que é cumprir esta peregrinação. E só falta mais uma... Aquela que por ser a última parece voar
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