segunda-feira, 4 de maio de 2015

De Santiago de Antas a Santiago de Compostela, 1 e 2 de maio de 2015.
Desta vez vamos começar pela conclusão, abençoado, fantástico e inesquecível.
Vamos então ao relato mais pormenorizado.
Dia 1 de maio, 5:45h, levantar e correr para a janela à espera dum milagre, não aconteceu, chuvia que Deus a dava, a parte abençoada estava garantida.
Às 6:09h cai a mensagem do Vasco a desmarcar a sua participação, às 6:21h telefona o Mesquita a perguntar se tudo continuava de pé, às 6:24h foi a vez do Álvaro, a ambos respondi que um Biciatu está sempre de pé.
Ás 7:15h, lá estavam prontos a partir da igreja de Santiago de Antas, os 4 estarolas, Álvaro, Jorge, Paulo e Mesquita, o Vasco também apareceu para tirar a foto e dar ânimo.
Seguimos então para o ponto de partida propriamente dito até ao albergue de Rates, havia um mix de euforia e preocupação, primeiro espanto, não faltavam grupos de bicigrinos e peregrinos a fazer o caminõ, além de abençoados já estávamos bem acompanhados.
O próximo destino foi a bola de Berlim em Barcelos, já com lama por todos os lados mal entramos na confeitaria fomos olhados com desconfiança, mas depois dum bate papo, já eramos admirados, o ânimo levantava e o nosso ego disparava.   
Rumo a Ponte de Lima para o merecido almoço, o Paulo só mencionava a Tasca das Fodinhas (esteve fora alguns dias e o desejo era grande), o resto do grupo e tendo em conta a peregrinação que requer alguma abstinência optou por algo mais tradicional, o arroz de sarrabulho, quando chegamos ao restaurante Alameda o nosso aspeto assustava, lama atá ao pescoço.
Depois de um tinto verde e do referido manjar, arrancámos para Rubiães, continuávamos abençoados pois ainda não tínhamos tido um só momento sem a bênção dos céus.
As dificuldades a sério começaram então a surgir, aproximava-se a famosa Serra da Labruja. Pouco antes de iniciarmos a subida, recebemos o primeiro sinal do céu, a chuva desanuviou. Esta parte do percurso faz jus à fama que tem, por isso mesmo também engrandece o caminõ, a digestão do arroz fez-se sentir (era cá uma sede), aqui verificamos que o caminõ começa a fazer mossa e vai deixando marcas, o nosso grupo lá fez a subida uns com mais dificuldade que outros, mas vimos grupos onde os menos preparados já recebiam massagens a meio da subida, aqui a primeira nota para o uso de mochila ou alforges, mochila sem dúvida. A primeira grande etapa estava ultrapassada com grande satisfação de todos nós.
Seguimos então para Valença, aqui o primeiro contratempo com o Mesquita a furar e a dizer mal da vida dele, quando tira a camara suplente a todos nós pareceu demasiado grande para ser uma 26, o homem até ficou branco, afinal era mesmo uma 26, com a cor a voltar ao tom natural e resolvido o problema,a marcha continuou.
Lá chegamos a Valença e Portugal ficou para trás, com a visita natural à catedral de Tui, a última etapa do dia era chegar a Porrino para o merecido descanso.
Chegámos ao albergue de Porrino às 20:30h espanholas (19:30h portuguesas) onde eu o Manel pretendíamos pernoitar, mas como o albergue fechava às 22:00h, só tínhamos 1:30h para tomar banho e jantar, como o Paulo nos vinha aliciando com um grande jantar num restaurante seu conhecido decidimos ficar todos no Hotel Parque.
Quando chegámos ao hotel, é fácil imaginar o nosso estado em termos de apresentação, lama até nos dentes.
Lá nos instalámos 2 em cada quarto, e, banheira com tudo incluído, eu fui o primeiro, até lama no rabo tinha.
Lá fomos ao famoso jantar dos deuses, onde pedimos algumas entradas, pulpo a fervilhar em alho e azeite, pimentos padron e folhados de carne com umas canhas à mistura, para prato principal um naco de boi aí de 20 cm lascadinho na pedra, o Paulo pediu um bom vinho tinto para acompanhar. Lá comemos, o boi era espetacular o vinho delicioso (já vamos ver quanto), a conversa fluía cada vez melhor, tudo estava no ponto. Resolvemos pedir a conta, que nos é apresentada juntamente com 2 garrafas, uma de licor de café outra de licor de ervas, mal o Paulo viu a conta mamou logo de golada um licor de ervas, agora cheio de coragem lá nos comunicou que as 2 garrafas de vinho custavam 50€, nesta altura já nada nos metia medo, mamámos meia garrafa de cada licor, o primeiro dia tinha chegado ao fim com 135 km.
Dia 2 maio, sábado.
Arrancámos já com o pequeno almoço tomado no hotel, com algum atraso face ao previsto pelas 9:00h rumo a Pontevedra.
O terreno estava todo molhado pelo que deduzimos que tivesse chovido durante a noite e o céu não prometia nada de bom, mas felizmente não voltou a chover.
Rolávamos à cerca de 1h quando o elo de engate da corrente do Paulo cedeu, substituiu-se rapidamente e continuamos até Redondela já com a baía à vista, chegámos a Pontevedra para almoço pelas 12:30h, já almoçamos umas sandes na esplanada.
Próxima etapa, Padron. Com a barrinha cheia não foi difícil este objetivo, chegámos pelas 16:30h.
Última etapa, Santiago de Compostela.
Apesar de ter algumas subidas não nos foi difícil chegar ao destino, já na rua de acesso à catedral oiço umas vozes, ó Biciatus, ó Biciatus, parei e lá estavam os LRápidos de Famalicão. Chegados por fim à catedral pelas 19:15h foi uma festa. Ainda por cima, mal estava a tirar a mochila oiço o sinal de mensagem, já sabia que o resultado em Barcelos tinha mexido, antes de ver fiz uma prece ao Santiago para que não estragasse tudo no fim, quando vi já era o 2-0, a felicidade era então total.
Depois das fotografias da praxe e da obtenção da Compostelina devidamente autenticada, fomos tomar um duche num albergue indicado pelo posto de turismo.
Mal lá chegámos até pensávamos que estávamos enganados, eram só peregrinas, lá estava uma dinamarquesa que já ameaçava falar qualquer língua, depois de um bocadito de corda lá fomos jantar pois o dono só nos guardava as mochilas e as bikes até ás 22:15h.
Resolvemos ir ao restaurante onde estavam os LRápidos e confraternizar um pouco, decidimos que o jantar seria à base de tapas pois a rapidez seria maior, mal começamos a jantar liga o senhor do transporte a dizer presente, tudo a bater certo.
Voltámos ao albergue para recolher as mochilas e as bykes e lá continuavam as peregrinas com a dinamarquesa à cabeça a brindar por todo o lado.
Chegámos a Famalicão pelas 24:00h.
Antes das notas finais (já pareço o Marcelo), quero agradecer a companhia dos outros 3 Biciatus que em tudo valorizaram esta expedição, tudo correu pelo melhor, com companheirismo, humor, democracia, compreensão, etc.
Notas finais:
Pelo caminõ é curioso que nos vamos cruzando com os vários grupos várias vezes ao dia.
Pelas conversas que íamos tendo, a quase totalidade dos grupos faziam o caminõ em 3 dias e com carrinha de apoio, se não me engano, eramos os únicos em autonomia total.
Ao longo do percurso o Paulo estava sempre a chamar a atenção, era para os cruzeiros, era para as capelas, era para as santas, etc, só nos dizia, depois não digam que não viram.
Ficamos espantados com a quantidade de bicigrinos e peregrinos que fomos encontrando, pelos vistos o caminõ está com uma percentagem de crescimento na ordem dos 30% ao ano.
Para finalizar, a questão do stress dos 2 ou 3 dias.
Pelo que fomos conversando e atenção que o 1º dia foi em condições extremas, de Ponte de Lima a Rubiães foi sempre em lama, achámos que para o nosso nível 2 dias podem chegar (marca-se em qualquer fim-de-semana). Se me perguntarem, eu achava que seria mais fácil do que na realidade foi, tem de facto de se ter alguma preparação, não basta ter vontade.
A questão do número de pessoas, também me pareceu que para incluir um número maior a logística tem de ser maior e mais inflexível (nós decidimos em cima da hora trocar o albergue pelo hotel, se fossemos mais de 2 talvez não fosse possível), as paragens para comer, para uma miginha, seriam também mais regulares, etc.
Vou finalizar como comecei, para todos nós, foi um caminõ, abençoado, fantástico e inesquecível.
      
    
       

3 comentários:

Paulo Pinheiro disse...

Foi sem dúvida um passeio para homens com H , com coragem e com alguma loucura a mistura.
Grandes Biciatus;
-Alvaro (Alvarum) sempre em primeira linha, nem o entorse o fez andar menos.
-Jorge (Marium) sempre pronto, nunca há volta atrás .
-Mesquita (Emanuellum), já antes da Labruja mostrava sinais de fadiga, mas nunca desistiu e em Santiago já estava pronto para Finisterra. Fez Padron Santiago em 2 horas.
-Vasco : não imaginas o que perdestes.
Definitivamente este passeio e para 2 dias. 3 só se for a Finisterra.
O meu próximo será por Chaves e também em dois dias. Quem alinha?

Vasco Araujo disse...

Perdi uma grande molha acompanhado dum excelente lamaçal.
Mas na próxima oportunidade quem sabe 3 dias até Finisterra !!!!!

Martinho disse...

Meus caros,

Admirei a vossa coragem.
Eu sei o que é fazer o camiño debaixo de chuva e não é nada agradável.

Creio que foi o entusiasmo de ser a 1ª vez, que vos fez partir para a aventura nestas condições.

Ao que parece, gostaram da aventura e isso é que importa.

Nota: Da próxima não deixem o Paulo escolher o vinho. Ele deve ter confundido o espanhol com galego.